quinta-feira, dezembro 30, 2004

Os gostos da existência

A vida é constituída por sub-reacções
Sub-reacções suscitadas por reacções
Reacções suscitadas em sentimentos
Sentimentos envolvidos em momentos
Momentos constituindo acções
Acções futuras, presentes ou passadas
Sempre todas elas carimbadas ou por carimbar
Pela sensibilidade de cada um

Sentimentos são seu fruto
E nós provamos de tudo um pouco
Gostos agres, gostos doces
Por vezes vindo aos pares
Baralhando o paladar
Ou esgotando-o de tanto o usar

E onde se alojam esses sabores?
Nos espelhos da nossa alma
No labirinto do nosso coração
Nas entranhas da nossa carne
Nos corredores da nossa mente

E que poder tem sobre nós?
Sobre a alma, o coração, a carne e a mente?

Gostos agres que vão selando o olhar
Gostos doces que estimulam o sorriso
Que não querem caber na nossa caixinha
Ansiando por uma libertação
Por um grito de liberdade
Querendo sempre deixar a sua marca

Não se querem guardar na mente
Não se querem guardar no coração
Tem bichos-carpinteiros
Querem viver para sempre presentes
E não aceitam o seu esquecimento
E sem nos dar por conta
Fogem por um distraído suspiro
Em tons de confissão

Libertam-se entre gritos
Ao sentirem corações longínquos
Para que se consigam escutar
Através de toda a exaltação

Libertam-se em beijos
Libertam-se em calmas palavras
Ao sentirem irrigações perto das suas
Não sendo preciso empregar
Palavras bradadas
Apelando ao entendimento
Apelando que os oiçam
E se preciso for
Apelando que os ajudem

Mágoas, alegrias, tristezas
Ai que estas também se cansam
De viver presas em espelhos negros
De viver assombradas em único ser

Procuram então corações próximos
Onde possam saltar como parasitas
Alimentando-se ao sugar seu paladar
Procuram encontrar um novo refúgio
Quem sabe talvez este mais acolhedor
E de muita preferência
Muito menos questionador

terça-feira, dezembro 21, 2004

A Força da Inocência

Nas ruas das pequenas aldeias
Vagueava a mais pura inocência
Movendo-se como o vento
Tão transparente a sua alma
Deixando no ar o seu perfume a romã
Fazia beicinho para os gostos amargos
Lançava um belo sorriso
Ao arco-íris sem fim
Sentia-se livre no seu corpo tão mortal
Sentia-se presa à sua inocência angelical
Vestia-se de branco para poder brincar
Corria pelos mais belos campos
Contando a muitos os seus segredos
Gritando a todos a sua felicidade
Cheirando o doce perfume das flores
Admirando a beleza de cada uma

Defrontava a sua própria sombra
Qual das duas a mais veloz
Sorrindo sempre à sua derrota
Sabia ler muitos olhos e corações
Mais frios que o gelo gelado
E todos os dias adormecia
De uma forma tão calmamente
Não tento nada a que se culpar

Um dia rodopiava velozmente
Na montanha da sua felicidade
Velocidade tão grande esta
Que no chão acabou parando
Surgiu então algum sangue
Que o sol fez questão de secar
Pediu socorro a vales e montes
Nenhuma resposta obteve
E o vento triste começou a esfriar
Pois nada poderia fazer

Sentiu pela primeira vez a solidão
Tão presente no seu apelo
Derramou lágrimas de tristeza
E algum tempo passou, então
Chegou o momento de reabrir os olhos
E olhou para a sua ferida
E riu-se!
Riu-se da sua parvoíce
Riu-se de toda a solidão desconhecida
Riu-se de toda a tristeza sentida
Fechou novamente os olhos
Apoiou as mãos pequenas no chão
E levantou todo o seu corpo
E pensou!
Sabendo eu o pouco que sei
De aqui estar tão protegida
Sem avistar o meu irmão, Homem
Que me ajudaria por interesse
Que é mau para o próximo
Que sabe mentir tão bem
Que tem gosto pela vingança
Que é fraco na bondade

Hoje muito juntei ao meu pouco
O que é bom, digno, puro
Não é tão frágil o quão parece ser
Muita força possui no interior
Move mundos e fundos
Revelando o seu grande puder
Anestesia toda a dor existente
Dando-nos força para erguer
Dando-nos força para continuar
E finalmente acordei
O choro lavou minha vista
De todo o pesadelo encenado
Tentando apenas confundir a razão
Mas posso afirmar seguramente
No bem que me sinto ao saber
Que desvendei a verdade encoberta
E que conseguirei seguir meu caminho
Mesmo que volte a cair
Mesmo que volte a me magoar
E por fim saber que encontrei
O meu estimado e procurado lar

segunda-feira, dezembro 20, 2004

A Balança

Tento gostar de ti, de ti ou até mesmo de ti
Porém impossível parece
Talvez por meu coração ser meu
E tal como eu, rebelde é
Gostando de quem quer
Sem pedir um posso ou licença
Aceitando o que lhe convém
Rejeitando o pior que fútil
Diferentes em muitas coisas
Procurando em conjunto o melhor
Será um sinal tanta rebeldia?
Ou apenas um eterno abrigo?
Pedir-me-á que mude por ele?
Pedir-me-á que mude por mim?
Mudaria ele por mim?
Se recusasse tal pedido
Ou como resposta escolheria
Rebeldia eternamente?

Noite e Dia

Quando para a noite olho
Admiro a sua beleza
Quando para o dia olho
Admiro a sua clareza
Tão diferentes unicamente
Completando-se entre si
É como te vejo a ti e a mim
Diferentes como a noite e dia
Cada uma com sua beleza
Cada uma com sua clareza
Admirando-se mutuamente
Reconhecendo a sua importância
De uma para a outra
Tão diferentes em sentimentos
Tão parecidas em pensamentos
Valorizando os mesmo princípios
Que cada uma aprendeu à sua maneira
O dia e noite nunca se encontraram
Nós aí fugimos à regra
E ainda bem que assim o é
Partilho muitos segredos
E muito segredos me confidencias
Ambas conhece-mos os ouvidos das paredes
Ambas sabemos o seu comprimento de língua
E por isso confio em ti
E por isso confias em mim
Apenas NUNCA podemos garantir
Mentiroso é o que o garante
E como a mentira nos repugna
O resto da mensagem perceberás
Mas nada é tão diferente assim
Muitas coisas idênticas possuímos
Rio-me quando meus pensamentos lês
Admiras-te com as nossas coincidências
E fácil percebermos porque
O meu ser estudou e compreendeu o teu
O teu o mesmo fez ao meu
Mas a nossa descoberta mútua não terminou
Ainda há muito que decifrar
As duas apoiando-se entre si
Se necessário reprimindo até
Sempre em louvor do nosso bem
E se deus o conceder
Até ao fim dos nossos dias se prolongará

Dedicado a mim e à minha Mana.

Desejo

Quero tiras às paredes a sua ultima pele
Quero que o preto se torne branco
E nele me puder encontrar
Pois me estou a desintegrar
Na sua infinita escuridão
Onde grito e ninguém me ouve
Onde choro e ninguém me ajuda
Onde desmaio e ninguém me acorda
E onde penso que vou morrer
Sem conseguir o que desejo

Feliz

Sinto a falta de o ser
Sinto a falta de o ter
E a falta que eu sinto
Reflecte-se no abismo da minha alma
Onde o despenhadeiro não tem fim
Tenho medo de tombar
Nas garras da negrura
E deixar-me levar por ela
Sem lhe contar a minha vontade
Sendo ela a essencial
Dos princípios para os fins
Dos fins para os princípios

Tenho medo de acabar
Com minha vontade por concluir
É sinal que não vivi
Muito sofri
Nas mãos do mais que tudo
Onde o perdão é sagrado
E o pecado reprimido
Onde a vontade é maior
E os pés pisam em falso
E o sorriso desvanece
Cada vez que me conformo

Proibições

Proíbo-te de me quereres mudar
Só porque a ti não convenço
Proíbo-te de te vingares
Quando sou firme nas decisões
Proíbo-te de me apontares o dedo
Sem olhares para dentro de ti
Proíbo-te de me quereres usar
Ao sentires um pouco do que sinto
Proíbo-te de me iludires
Quando reparas que a teus pés estou
Proíbo esse teu ciúme irracional
Ao sabermos que já nada te sou
Ao sabermos que nunca nada te fui
Proíbo esse teu sorriso alegre e matreiro
Proíbo esse teu olhar codificado
Proíbo o toque das tuas mãos virtuosas
Que me enchem a alma de esperanças
Proíbo tudo o que me faz recordar-te
E proíbo este meu coração tolo
Em todas as suas escolhas
Sem primeiro me consultar

Sem Titulo

Como todas as noites
Esta noite procuro por ti
Diferente hoje porque desesperadamente
Peço que deixes o teu mundo
E ao meu te venhas render
Que procures o meu corpo
Com desejo incompreensível
Sem medos ou consciências
Sem certezas ou incertezas
Apenas porque o desejas
Apenas porque o anseias

"Desparte-me" o Coração

Nos dias em que a noite existe
Aqui me encontrarão
Somente pensando em ti
Recordando todos os momentos
Estes maus ou muito bons
Tendo cada um o seu peso
No sentimento que tenho por ti
Apesar das dificuldades
Que o destino nos confronta
Com significativas diabruras
Sendo pequenas cercas
De arame farpado
Que muito arranham
Parte da nossa esperança
Parte da nossa força
Ao tentarmo-nos libertar

Choramos com mágoa do destino
Pela existência de tanta distância
Retardando a nossa felicidade
E choro, e lamento, e enfraqueço
Conseguindo apenas ouvir a tua voz
Serena quando tudo está bem
Alterada quando um passo em falso dou
E choro, e lamento, e enfraqueço
Conseguindo apenas sentir-te longe
Através do meu sexto sentido
Este apelando aos outros cinco
Que por ti sejam satisfeitos
E choro, e lamento, e enfraqueço
E tenho saudades da tua boca
E tenho saudades das tuas mãos
Entrelaçadas nas minhas
E tenho saudade do teu corpo
Abraçando fortemente o meu
Implorando ao altíssimo, por favor
Que não seja mais uma despedida!

Dedicado à minha querida Irmã e ao meu distante Cunhado.

A culpa de quem será?

Até aos meus poucos dias
Sempre o mesmo ouvi dizer
Dito por diferentes gerações
Resumidas ao mesmo problema
Sempre com a mesma explicação
Que quem não o faz por medo
Mais tarde sentirá arrependimento
Sentirá vontade de o ter feito
E pensará, considerará, matutará
No que podia ter mudado
Qual a diferença que fazia
Ao seguir a tal vontade
E se seguida a tal vontade fosse?
E se tudo calmo terminasse?
E se o desejo satisfeito fosse?
E se morresse ele ao ser satisfeito?
E se ao ser satisfeito, insatisfeito ficasse?
E o medo onde ficaria ele?
Presente talvez em cada passo
Esquecido talvez em final feliz
E se o final infeliz fosse
Ao satisfazer a tal vontade
Completamente ou incompletamente?
De quem a culpa seria
Do medo que atormenta o corpo?
Massacraria a minha mente
Tentando arranjar culpado
E este seria, eu, tu, ele, ela…
E nunca eu, tu, ele, ele, ela…
Pesaríamos afirmar que
A culpa é da nossa vontade!

Contraste

Dou por mim a pensar
Em tolices preocupantes
Onde lágrimas
S?o o seu resultado
E gargalhadas sua soluç?o
Para obstruir toda a verdade
A que sou obrigada a assistir
E impondo a mim mesma
Puniç?es como obrigaç?o
Cega como o próximo
E puder viver sem preocupaç?o

Faço da vida o meu rascunho
De todos eles
Este mais belo
De objectivos e deveres
Anoto perdas e conquistas
Superficiais ou profundas
Todas elas no seu lugar
De maneira impetuosa

De todos os rascunhos
O mais complexo é este
Em todos os outros
Posso eu mudar
Este tem vontade própria
Por mais que seja minha vontade
Por maior que seja meu ódio
Nenhuma página posso apagar
Nenhuma página posso rasgar
Nada poderá ser substituído
Para sempre ficará lá
Página sobre página
Lembrança sobre lembrança
Nada mudará
Nem mesmo o que virá

Contemplaç?es

Contemplo o belo gosto do quente
O calor que procuro em meus lábios
Quando os desejo esfriar
Contemplo o belo gosto pelo sil?ncio
Em que nem me consigo ouvir
Ou até mesmo fazer ouvir
Contemplo o belo gosto pela leveza
Que faz minha alma levitar
Quando a lua chama por mim
Enquanto os outros se enterram
Debatendo-se contra o que s?o
Contemplo o belo gosto de olhar
Um olhar atentamente
Sem cobiça ou intenç?o
Tentado alcançar constituiç?o
Do pouco que percebemos
Contemplo o belo gosto de escrever
Inundas palavras de prazer
Palavras ingénuas angelicais
Contemplo o belo gosto de pensar
Mais uma vez no pouco que percebemos
No muito que desconhecemos
Contemplo o belo gosto do movimento
Que antes nos puxa o belo gosto do pensamento
E nos faz sentir pesados
Sobre o finito ch?o que pisamos
E que nos faz sentir cansados
Quando muito nos movimentamos
Contemplo o belo gosto das notas musicais
Em que todas se juntam entre si
Com efeitos t?o variados
Bailando todas sem excepç?o
Fazendo a minha pobre alma turbilhar
Contemplo o belo gosto de fazer amor
De compreender o sil?ncio transbordante
De fazer perceber em sil?ncio
De dar e receber sem exig?ncias maiores
Contemplo o belo gosto de chorar
De puder lavar a alma
De mostrar a existente fragilidade
Sem vergonha ou timidez
Assumindo o quanto se é fraco
Contemplo o belo gosto da sensaç?o
Aquela que desconhecemos
Sendo mera sensaç?o
Ou aquela que nos faz sentir
Podendo frente a ela estar
Contemplo o belo gosto pelo sonho
De puder Ser, Fazer, Ter
Apenas fechando as portas do consciente
Contemplo o belo gosto de amar
Fortemente que nem le?o
Cegamente que nem toupeira
Passivamente que nem preguiça
Contemplo o belo gosto pelo gosto
Contemplo o belo gosto em redor
Contemplo o belo gosto no envolvente
Contemplo o belo gosto de viver
Contemplando sempre o belo gosto de ser eu
Única unicamente para mim

A força da Inoc?ncia

Nas ruas das pequenas aldeias
Vagueava a mais pura inoc?ncia
Movendo-se como o vento
T?o transparente a sua alma
Deixando no ar o seu perfume a rom?
Fazia beicinho para os gostos amargos
Lançava um belo sorriso
Ao arco-íris sem fim
Sentia-se livre no seu corpo t?o mortal
Sentia-se presa ? sua inoc?ncia angelical
Vestia-se de branco para puder brincar
Corria pelos mais belos campos
Contando a muitos os seus segredos
Gritando a todos a sua felicidade
Cheirando o doce perfume das flores
Admirando a beleza de cada uma

Defrontava a sua própria sombra
Qual das duas a mais veloz
Sorrindo sempre ? sua derrota
Sabia ler muitos olhos e coraç?es
Mais frios que o gelo gelado
E todos os dias adormecia
De uma forma t?o calmamente
N?o tento nada a que se culpar

Um dia rodopiava velozmente
Na montanha da sua felicidade
Velocidade t?o grande esta
Que no ch?o acabou parando
Surgiu ent?o algum sangue
Que o sol fez quest?o de secar
Pediu socorro a vales e montes
Nenhuma resposta obteve
E o vento triste começou a esfriar
Pois nada poderia fazer

Sentiu pela primeira vez a solid?o
T?o presente no seu apelo
Derramou lágrimas de tristeza
E algum tempo passou, ent?o
Chegou o momento de reabrir os olhos
E olhou para a sua ferida
E riu-se…
Riu-se da sua parvoíce
Riu-se de toda a solid?o desconhecida
Riu-se de toda a tristeza sentida
Fechou novamente os olhos
Apoiou as m?os pequenas no ch?o
E levantou todo o seu corpo
E pensou…
Sabendo eu o pouco que sei
De aqui estar t?o protegida
Sem avistar o meu irm?o, Homem
Que me ajudaria por interesse
Que é mau para o próximo
Que sabe mentir t?o bem
Que tem gosto pela vingança
Que é fraco na bondade

Hoje muito juntei ao meu pouco
O que é bom, digno, puro
N?o é t?o frágil o qu?o parece ser
Muita força possui no interior
Move mundos e fundos
Revelando o seu grande puder
Anestesia toda a dor existente
Dando-nos força para erguer
Dado-nos força para continuar
E finalmente acordei
O choro lavou minha vista
De todo o pesadelo encenado
Tentando apenas confundir a raz?o
Mas posso afirmar seguramente
No bem que me sinto ao saber
Que desvendei a verdade encoberta
E que conseguirei seguir meu caminho
Mesmo que volte a cair
Mesmo que volte a me magoar
E por fim saber que encontrei
O meu estimado e procurado lar

A Balança

Tento gostar de ti, de ti ou até mesmo de ti
Porém impossível parece
Talvez por meu coraç?o ser meu
E tal como eu, rebelde é
Gostando de quem quer
Sem pedir um posso ou licença
Aceitando o que lhe convém
Rejeitando o pior que fútil
Diferentes em muitas coisas
Procurando em conjunto o melhor
Será um sinal tanta rebeldia?
Ou apenas um eterno abrigo?
Pedir-me-á que mude por ele?
Pedir-me-á que mude por mim?
Mudaria ele por mim?
Se recusasse tal pedido
Ou como resposta escolheria
Rebeldia eternamente?