domingo, janeiro 31, 2010

O OUTRO LADO



Se um dia perder a noção e não sentir mais o chão que me ampara, as ávidas fragrâncias e graças, as notas divinas, os fluidos movimentos, as suaves texturas, o sublime brilho, a perpetua existência de todas as coisas, bem como, a evolução de tantas outras… Se um dia deixar de sentir esta necessidade motivada de escrever, escrever e escrever sem obrigação ou motivo aparente, não estarei mais entre os demais.

De boca seca,
lábios atónitos,
olhar selado,
corpo brando,
– Inspiro –

Sussurro a mim mesma,
espíritos frágeis,
ideias loucas,
fantasias,
invenções.
– Expiro –

O ar maciço percorre-me as cálidas narinas.
O fresco aconchega-me o corpo dilatado.
Sereno! – ordeno a este corpo exaltado –.
Conserto compostamente todo o pulsar.
Sinto o toque arrepiante da consciência:

Se um dia ficar doente de mim própria;
abandonar o que realmente é majestoso;
ambicionar o mundo estranho,
o que não se vislumbra;
 contemplar o de dentro e …
– Silêncio – ;

Se o meu meloso mar virar salgado,
e tão esgotado o meu sol esmorecer,
as promessas me irão certamente esquecer.

Se um dia não desencovar atalhos;
e os pés pesarem magoados ,
os ossos ameaçarem quebrar;
é tudo Isto que quero levar.

Um cosmos cintilante e perfeito.
Sentimentos negros transformados em pérolas,
Sem pressentimentos e desassossegos,
Jorros supremos de felicidade,
Gargalhadas dinâmicas,
Risos completos,
Palavras gordas,
Bem-querer
Honra,
Amor.

Nestas páginas tão bem conhecidas.

É esta a lição que quero guardar.

Se um dia tudo acordar mais cansado.

É assim que quererei voar.