sábado, dezembro 08, 2007

“Tem sido um desassossego, desde o início e nunca me passaria pela cabeça vivê-lo na companhia de qualquer outra pessoa.”


Não vou dizer o meu nome, por enquanto. Digo-vos apenas a minha idade, 56 anos, se é que isso quer dizer alguma coisa. Se falasse sobre mim… diria que me considero alguém que viveu e vive intensamente as horas que me dão todo este ar cansado que recuso a olhar no espelho e a aceitar, porque nada tem a ver comigo. Nem todos somos brindados pelo tempo. Tempo… Tempo… O que é isso comparado com o que sinto no peito? Com esta vontade de percorrer tudo o que ainda não percorri e amar-te intensamente como se fosse o primeiro dia? Recordas-te do primeiro dia? Eu nunca me esquecerei, passe lá o tempo que passar. Não dá. Jamais daria para esquecer o dia em que a minha vida passou a estar deveras completa e cujo tracei por integral o homem que queria ser. Naquele dia em que nos enxergamos por mero acaso (não me lembro a data mas, para quê datas e mais datas, se não foi isso que tornou encantador o encontro do meu ser com o teu?). Foram momentos encaixados em instantes de segundos que se prolongaram entusiasticamente até aos dias de hoje. Pela trama do destino entrelaçamos nossos caminhos e a partir daí nunca mais se separaram. Não imaginar-me-ia a compartilhar o meu leito com outra cara, com outra pele, outros olhos e outras palavras. És tu e sempre foste tu quem eu esperei mesmo não sabendo de inicio se serias tu. Hoje, com esta idade, um jovem ainda, percebo o porquê do medo quando algo bom demais vem ter connosco, vindo do nada, talvez, e nos deixa sem reacção. Medo é o que temos, medo. Medo de sermos felizes não esperando que fosse tão fácil. E tão fácil que foi conhecer-te naquele dia em que pela primeira vez tive o medo de ser feliz, porque sem saber, sabia que serias tu. Se hoje morresse sem te ter tido como minha mulher, sem te ter levado ao altar que uniu celestialmente o que já ninguém separia, sem te ter entregado o anel que possuis no dedo, e não te dissesse o que aproveito para te escrever agora, voltaria do túmulo insatisfeito porque não cumpri, pateticamente, devo dizer, o dever de te fazer minha. Porque sei, que a idade também nos ensina alguma coisa, que enquanto não fosses minha, viverias à deriva no amor, parando de porto em porto sem que finalmente pudesses aportar. E eu no túmulo remexer-me-ia de remorsos, meu amor.