sábado, setembro 04, 2010

Feixe de luz de sol

Hoje gostava de escrever um poema… Mas vou tentar não o escrever. Vou simplesmente escrever sobre um olhar e infinitas sensações e pensamentos que tenho recentemente guardados.

Som de fundo:
Link: http://www.youtube.com/watch?v=yBrw0ETv_i8&feature=related    


Hoje, enquanto ia a caminho de casa, passei por um pequeno girassol perdido à margem de um campo seco. Naquele momento delirei…! Surpreendentemente surtiu em mim uma imagem mental de um enorme campo, todo ele, repleto com enormes e brilhantes girassóis ao cuidado do sol. Fiquei completamente inundada com a tamanha perfeição, encanto e beleza que se ateava no meu interior. E como por magia emergiu uma súbita necessidade de parar o carro à borda daquela estrada vazia e correr em direcção a todos eles e abraça-los, cheirá-los, deitar-me ao seu lado e adormecer com um sorriso nos lábios e acordar, somente, porque todo o seu brilho me despertou. Desejava perder a noção do tempo, do espaço, do passado e do presente, do que sou e como sou, de onde vinha, para onde ia, porque motivo… Sem motivo, apenas porque sim! Que alegria! Fundir-me com aquele campo, com aquela terra quente, com o céu pardacento, o ar abafado, a luz incandescente, o silêncio pausado, e claro, com todos eles. Que coisa mais linda me inundou o corpo e todos os sentidos! Naquele momento todos eles estavam ao rubro, ao mesmo tempo que me sentia em plenitude. Algo transcendente e muito simples despertou em mim uma extraordinária necessidade de contemplar toda aquela monstruosa beleza. Imaginava-me a encostar desvairadamente o carro e a correr, quase como voando, em direcção àquela energia que vinha daquele frágil e perdido girassol! Parvamente, não parei, prossegui. Talvez porque levava os meus pais e não queria que pensassem que sou mais demente do que aparento (risada)(e outros mil motivos). E enquanto seguia caminho, vivia arrebatadoramente aquela sensação de que todos os meus pensamentos casavam-se fielmente com aquela divina tela. Foi sem querer que ancorei o resto do meu dia àqueles, cada vez mais longínquos, metros quadrados de campo sagrado. E tudo isto para dizer, ainda hoje, aos meus queridos girassóis que, onde quer que estejam, não consegui deixar de pensar, durante todo o dia, que devia ter parado, devia ter saído a correr, devia ter deixado a mulher para trás e correr como a criança que sou e abraça-los, cheirá-los, deitar-me e suspirar de alegria a vosso lado. Naquele momento devia ter abraçado toda a loucura e magia muito maior do que sinto agora só de vos recordar.

Devia ter sorrido a seu lado e não quando penso neles. Contudo, enquanto escrevo sobre eles, sobre tudo, sinto como se lá tivessem estado verdadeiramente, sinto que apenas eu os vi, que apenas queriam que eu os visse, e de tanto pensar consigo sentir que os estou a abraçar, a cheirar, estando tão serena na sua companhia que me sinto a adormecer deixando um tal sorriso nos lábios.

Imagem de: José L. C. Borges.

sexta-feira, julho 16, 2010

Melodia do adeus.


Tocam os sinos anunciando
que a Incerta sem data chegou.
Não aceitá-la também mata
quem de certo tudo julgou.

Seus ossos somente lembrança
de um corpo que os amparou.
Quem nasce tem já herança
da cova onde restou.
 

domingo, janeiro 31, 2010

O OUTRO LADO



Se um dia perder a noção e não sentir mais o chão que me ampara, as ávidas fragrâncias e graças, as notas divinas, os fluidos movimentos, as suaves texturas, o sublime brilho, a perpetua existência de todas as coisas, bem como, a evolução de tantas outras… Se um dia deixar de sentir esta necessidade motivada de escrever, escrever e escrever sem obrigação ou motivo aparente, não estarei mais entre os demais.

De boca seca,
lábios atónitos,
olhar selado,
corpo brando,
– Inspiro –

Sussurro a mim mesma,
espíritos frágeis,
ideias loucas,
fantasias,
invenções.
– Expiro –

O ar maciço percorre-me as cálidas narinas.
O fresco aconchega-me o corpo dilatado.
Sereno! – ordeno a este corpo exaltado –.
Conserto compostamente todo o pulsar.
Sinto o toque arrepiante da consciência:

Se um dia ficar doente de mim própria;
abandonar o que realmente é majestoso;
ambicionar o mundo estranho,
o que não se vislumbra;
 contemplar o de dentro e …
– Silêncio – ;

Se o meu meloso mar virar salgado,
e tão esgotado o meu sol esmorecer,
as promessas me irão certamente esquecer.

Se um dia não desencovar atalhos;
e os pés pesarem magoados ,
os ossos ameaçarem quebrar;
é tudo Isto que quero levar.

Um cosmos cintilante e perfeito.
Sentimentos negros transformados em pérolas,
Sem pressentimentos e desassossegos,
Jorros supremos de felicidade,
Gargalhadas dinâmicas,
Risos completos,
Palavras gordas,
Bem-querer
Honra,
Amor.

Nestas páginas tão bem conhecidas.

É esta a lição que quero guardar.

Se um dia tudo acordar mais cansado.

É assim que quererei voar.