sexta-feira, março 07, 2008

Actos de Coragem II

....

Engoliu o coração sangrando

e seguiu.

Com um esforço imensurável,

ela consegui!

Os seus olhos uniram-se

em um único sentido,

em um único pensamento

em uma única pessoa.

Cerraram… e lentamente se descobriram,

como que um engolir em seco

e um depois disso.

… Um novo olhar…

– Germinou a Mulher. –

quinta-feira, março 06, 2008

– Toda a gente comete erros – diziam; e, embora ele acenasse que compreendia, tinha consciência de que os amigos não sabiam o que ele estava a passar.

Tentei explicar em vários esforços o que parecia não ter sentido algum, em certos dias até para mim, chegando a desacreditar da própria convicção. Tentei descrever como me sentia, pois, nada tinha a esconder. Pediria apenas que me percebessem; que as minhas palavras se tornassem suas e que ficassem registradas como resposta a todas e quaisquer questões feitas. Fracassei. Fracassei miseramente por querer que entendessem algo que não sabia explicar, nem mesmo, a pessoas que sempre tão bem me compreenderam. As palavras saíam engasgadas, deformadas, como que uma pintura de Picasso acabada de sair de uma centrifugação. Os olhares, esses, eram agudos como um roçar de unhas afiadas numa pedra trabalhada de ardósia. Não aguentei por muito tempo aquela sensação desconfortável, que aos poucos me corrompia o corpo, talvez na mesma intensidade, em que os porquês e os comos saíam daquelas bocas. “Chega!” –. Saí…Saí daquela casa agoniado, com a sensação de ter vomitado a bílis e, nem mesmo assim, ter saído nada do que queria dizer. Nem uma palavra se aproveitara no meio de tanto esforço, pelo menos para eles. Ficara sensível perante os olhares, aqueles olhares de incompreensão…, parecia que se tinham colado às minhas costas e me seguiriam para quer que onde fosse. Soaram-me a estranho as suas caras. Nunca tinha apreciado como se sentiria um incompreendido…!
(…) Já era madrugada quando dei por mim numa ruela bem perto do supermercado. Sentia-me degolado. Andei por sítios que tão bem conhecia mas, que naquele momento, pareciam todos iguais. Eram apenas sítios, para poder andar, andar e andar… Tentara encontrar em cada passo algo com me reconhecesse mas, apenas avistava o lixo que as pessoas faziam questão de espalhar com a sua insignificante passagem. Sim, insignificante! Para mim, naquele dia, tudo me parecia insignificante. Eu era insignificante! Um ser não rastejante mas, que se movimentava em esforço como se tivesse sido baleado nas duas rótulas e, tivesse ainda, o mundo por atravessar. Sem mar em volta posso dizer que andei à deriva, ao som do silêncio juntamente com o eco calado daqueles olhares. Sentia esperança que alguém viesse do nada e me dissesse: “ Eu compreendo-te” parecendo-me familiar aquele tom, mesmo que o desconhecesse. Talvez necessitasse de conforto e, não fosse assim tão fácil encarar as minhas escolhas sem que os outros me apoiassem. Talvez as coisas tivessem mais sentido quando estivéssemos todos de acordo, ou talvez não. Talvez as coisas nem sempre possam agradar a todos e seja preciso aprender isso. Eu não estava preparado. Sempre ouvi “Sim”. Sempre ouvi “Força”. Sempre ouvi palavras de motivação e concordância e não me lembrava de olhares tão perfuradores assim. Perfuraram-me a alma e eu nem me recordo de ter aberto a porta para que pudessem fazer estragos.
– …Quem lhes deu as chaves invisíveis que continham no bolso do peito? Quem foi? Fui eu? Terei sido o cúmplice ou o guia que lhes foi dando indicações de como seria a chave para se entrar naquilo que sou? Não posso crer! – Era certo que quanto mais andava menos percebia mas continuei… –Entraram de maneira diferente e foi estranho. – Deixei-me pensar e andar… andar… andar… Quem sabe se encontraria sossego por fora e por dentro na próxima passada? Talvez percebesse, em fim, que o meu triciclo ficou em pequeno e tinha de aprender bicicleta ou, até que, agora, não tinha ninguém que me empurrasse o baloiço.
(…) Sinta-me tonto, porém. Não tonto, mas um tonto.
(…) Era tanto o que queria aclarar para prolongarmos o nosso assentimento. A pressão era nova. Eu o seu alvo. Pediria agora, sem palavras, que aceitem tal como eu aceitei. – Percebam, tal como eu percebi! Perdoem-me se assim pensarem que o têm de fazer meus amigos. – Todos nós erramos.