terça-feira, maio 03, 2005

Amigo



Hoje perdi-te meu amigo do coração,
perdi-te como quem acorda de manha!
Perdi-te porque assim é meu destino,
perder as pessoas que mais especiais me são!

Tenho mais um motivo para chorar,
tenho mais um motivo para desejar,
que me cravem um punhal
na escuridão que me tornei (mais ainda sem ti).
E aí meu amigo não chorarei.

Não consigo ser feliz e depois?
Alguma coisa muda por isso?
Algum segundo se perde no tempo?
O mundo deixa o seu destino de traçar?
Não, não, não. Nada pára para me salvar.

Perco a coragem de enfrentar os dias
com medo que a sua sucessão
me roube tudo e me deixa viva
para assistir à própria infelicidade.

E admito que sou fraca como
um papagaio de papel-de-seda
arrastado em tardes
de vento enraivecido.

Mas hoje a guita partiu-se
e eu nada posso fazer
senão voar com o vento,
perdida num mundo meu,
porém que não conheço!

Mas hoje não tenho ninguém
que percorra comigo os ventos
agitados que me levam
de olhos vendados, cobardes!

Sinto a brisa de um mar
interminável a meus pés
e tenho medo do vento
e tenho medo que não estejas
presente para segurar minha mão
quando ele terminar a sua viagem
e me deixar cair de uma vez por todas
num oceano que nem mesmo ele deu a volta.

P.s: O prometido é devido e é para ti este meu suspiro.

Encontro

Um dia será o último
O dia do último juízo chegará
e os olhos anunciarão a morte

Da balança se usará o equilíbrio
deste se determinará um resultado
de uma vida inteira até um terminar

Uma engenhosa vida
recheada de tudo um pouco
passará em milésimos de segundos
envolvida numa visão suprema
diante da nossa consciência

O Desconhecido conhecer-se-á
O Terceiro Olho se revelará
A memória estará ao auge
e ela própria nos denunciará
se o errado não confessarmos

O sangue não correrá mais
O tal corpo pedra ficará
perderá a sombra que o persegue
e talvez quem sabe descansará

Lágrimas de sangue seriam
as nossas se as tivéssemos
O novo corpo não chorará
mover-se-á apenas sobre pecados
passados, atormentados
construindo a sua vala
num andar limitado
trás-frente frente-trás

Não comerá nem beberá
nem gritará nem ouvirá
nem nada a menos que se liberte
ou que o libertem da própria vala

Se tal não acontecer
viverá num fim
que jamais algum vivo
poderá sequer imaginar

ELE

Amor diz Ele que sente
para ter um corpo
que o satisfassa,
é como hiena à espreita
procurando sua caça.

Carinho Ele implora
olhando a presa de mansinho,
mal sabe a coitado agora
que seu amor é feito de espinho.

Quem não conheça sua conversa
caí nela que nem cordeirinho,
pois Ele tem muita pressa
para satisfazer seu corpinho.

Maldito sois Vós infiel
sem escrúpulos e traidor,
há-de chegar Vossa hora
em que morrerá sem amor.

Obsessão

Mulher dos meus sonhos
e não só de pesadelos
Senhora tão deslumbrante
queria eu tê-la como amante

Solteira nos sentimentos
casada com meus maiores medos
alma de grande virtuosidade
desejaria eu tê-la por momentos
contorná-la com todos os dedos
e saciar esta ansiedade

Lábios luminosos vermelhos
tão doirados eram seus lindos cabelos
Na rua tratada como Madame
Tomara eu que algum dia me ame

Sou eu a sombra desta mulher
a sombra dos seus belos pés
que me perseguem desde que desperto

Viúva

Especial, leão de coração grande.
Casados à menos de um mês;
felicidade curta para tanta aguarda.

Lembro-me a cada segundo
da agonia naquele momento
e não há palavras que descrevam
e não há cego que veja
o que senti bem aqui dentro.
A íris dos teus olhos desapareceu,
como que já soubesse o seu destino
e eu de lado revirei tanto meus olhos,
que pouco faltava para te olhar de frente
– Queria tanto que a mim me atingisse
a bala que perfurou teu coração –

Desapareci a partir daí, eu juro!
As lágrimas percorreram-me
o corpo morto até ao chão
e o terreno infértil
alimentou-se do meu desespero.

No dia do teu enterro,
vi claramente como nunca
os nossos dias de felicidade,
sentia na pele a nossa época,
no ouvido a tua sonoridade
e no pensamento o inexplicável.

Carregara de preto o teu caixão
e nele me apetecia ficar,
rodeada de nosso amor.
Agora passo dias e noites a pé
e não me queixo por ti amor.
A minha única luz
passou a ser a de uma vela
no canto do meu quarto.