quinta-feira, abril 23, 2009
A simplicidade da vida: a morte.
sexta-feira, abril 17, 2009
Presença de ti. Em mim.
Nunca me senti tão preenchido ao olhar a mulher que todos os dias acompanhava as minhas noites. Exibia um corpo tão acetinado que nada fazia lembrar de tão único que era. Naquela calmaria toda, apenas o seu cabelo parecia ter vida. Parecia estar enfurecido com o próprio sustento. Era linda a mulher que dormia a meu lado todas as noites, e eu, cansado, simplesmente dormia sem lhe pedir sequer perdão. – Pensava isto unicamente para mim. Não queria que ela soubesse de tais pensamentos. Não queria que quando acordasse se sentisse dona de si e por isso nunca mencionei certas coisas. Coisas minhas. –
Nunca lhe disse que sei de cor os seus rebordos, que de olhos fechados sei a intensidade com que observa, o ponto de pique das suas sobrancelhas, a inclinação do seu pequeno e perfeito nariz, o tom dos seus lábios, o tamanho da sua aréola, a fragilidade das suas mãos, o alinhamento sublime das suas pernas, a delicadeza do seu umbigo até aos pés, o tamanho aligeirado da concavidade das suas costas... Enfim, sabia muito mais de olhos fechados sobre ela, do que ela possivelmente sobre mim.
E ela continuava ali imóvel ao vento frio que entrava de socapa pelas brechas da janela. O lençol de linho cobria-lhe o corpo quente e renovado pela noite e o colchão moldava-se à sua delicada postura. Até mesmo as belas paisagens que tínhamos a decorar parte de uma parede do quarto não faziam jus à sua beleza pura. Pura, sentia-a tão pura como água cristalina a descer por uma colina em dias de primavera. Era suave cheirar o aroma a flores quando fechava os olhos…Cair em mim… E perceber… que não passava apenas do seu cheiro… Da sua presença. Ao recordar tudo isto confesso satisfeito e em silêncio: serei para sempre o seu perfeito mendigo.
quinta-feira, abril 09, 2009
Origens, porquês e devaneios
Há dias atrás ouvi de uma crente religiosa, que ao falar da sua situação amorosa, me mencionou em segredo: “Os homens precisam da mulher para satisfazer o seu desejo carnal”. Naquela altura aquela afirmação não me despertou qualquer questão nem qualquer dúvida, como que se aceitasse de livre vontade as palavras que ela proferiu de consciência tranquila. No dia seguinte, a mesma frase ganhou sentido dentro de mim. (Talvez me tenha deitado sobre ela e não tenha percebido.) O seu sentido não foi em sentido de verdade, mas em sentido de questão. Questionava-me se seria possível e basicamente ser só assim: “Os homens precisam da mulher para satisfazer o seu desejo carnal”. E pronto. Satisfeito esse desejo já voltaria tudo ao normal.
Questiono: Então e quando esse desejo não fosse satisfeito o que aconteceria à mulher? Não serviria ela para mais nada? E ao Homem? O que lhe aconteceria se o seu desejo não fosse satisfeito? Derrubar-se-ia sobre a bebida? Confessaria aos seus amigos que tinha dormido com uma mulher, a qual, realmente, nunca tivesse tocado? Iria simplesmente dormir? Iria ficar acordado? Iria auto-satisfazer-se? Saciar-se-ia? Iria procurar outra mulher nas sombras da sua que era legítima? Iria entrar em depressão, em silêncio, em declínio? Não sei bem. Talvez dependesse do Homem que fosse. Talvez aqui, e só aqui, se aplique: “Os homens não são todos iguais!”.
Mas agora que escrevo sem pensar muito na rapidez com que escrevo, e sem sequer verificar o texto, penso: e a mulher? Onde fica musa de todos os tempos? Talvez não seja tão musa quanto pensemos. Debato-me.
Na história dos antigos a mulher (Eva) teria sido retirada duma costela de (Adão). Eu já conheço esta história desde pequena… outra coisa pela qual não me debrucei tanto na altura… mas neste momento…Afinal para que fomos nós criadas? Talvez para isso mesmo: criadas. Terá sido para satisfazer a necessidade carnal do Homem? Oh por amor de Deus! Terá Deus tido maior amor ao Homem quando nos criou? Porque fomos nós julgadas ao comer a Maça? Terá sido porque queríamos ser mais do que aquilo para que fomos criadas? Somos os monstros da sociedade? Enlouquecerão os homens sem uma mulher que os ajude? Os relacionamentos entre sexos iguais serão o resultado da independência que ambicionamos?
Afinal, o mundo está nas mãos dos homens ou das mulheres? E Deus? Onde está?
Se somos a praga, e nos espalhamos com a evolução, e possuímos o controlo, porque é que cada vez mais sofremos nas vossas mãos?
E por fim: existirá o amor?
segunda-feira, fevereiro 16, 2009
Sabiam a Framboesa...
Hum… Nunca provei tal sobremesa! - Sorri com ar de malandro. Recordo. -
São doces, melosamente doces! Suaves…, docemente suaves!
Meus Deus. São Irresistíveis!”
Vagueando na mesma tela
De onde venho não existem pressas.
Esfumam-se as ampulhetas.
O tempo, não o noto passar.
Não existe passado, futuro, só presente.
Tudo é igual e nada muda.
Há quem diga que de onde venho não existe nada,
porque o presente sem o passado e futuro, nada é.
Mesmo assim...,
talvez venha do nada e para o nada vá,
ou talvez permaneça no nada, avistando o nada,
e lutando para que nada aconteça.
Não sei se prefiro rir, se prefiro chorar,
se prefiro correr ou apenas sentar,
se prefiro viver ou então sonhar,
se prefiro dormir ou nunca acordar,
se prefiro ver ou apenas olhar,
se prefiro derrotar ou sair derrotada.
Não sei o que prefiro.
Talvez não prefira nada,
e se preferir nada será,
porque de onde venho só existe presente,
e nele não existe espaço para mais nada.
O que me cai nas mãos é o que devo aceitar e se não o fizer, nada mudará.
De onde venho as raízes das árvores mostram-se corajosamente.
Sinto vida longínqua, talvez porque o mar me parece morto e as montanhas frias.
As nuvens carregadas, mas no fundo vazias.
As pedras não mais que pedras doloridas.
Contemplo uma vida de longe...
Uma vida em que me sinto presa numa paisagem de onde não quero sair.
O mundo é muito mais assustador lá fora, dizem.
Nada envelhece, nada amanhece ou anoitece.
Retida numa miragem de loucura.
Imortal permaneço.
Aos pés de um banco de jardim
Na minha ausência poderão encontrar folhas soltas brincando ao vento, sentadas em bancos de jardim, espreguiçando-se e chamando por mim.
Travessas, pouco repousam nos sublimes leitos.
Vão namorando planetáriamente as caras que mais abaixo esperam encontrar.
Mas ninguém pára para as lisonjear.
Mas ninguém pára com intenção de as escutar, e se param, não mais é para resfolegar.
Nesse tempo...,
Vão caindo pouco a pouco como lhes manda o vento.
Aguardando quem lhes dê mais vida do que a vida que exibem coloridamente.
Áridas...,
Sofrem por quem dê por elas.
Coragem!
Porque não há quem vos oiça, nem mesmo quem se senta ao vosso lado, descuidadamente.
Como folhas velhas que serão sentam-se para avivar as lembranças e assim se mantêm vivas durante algum tempo.
Por fim, entristecem no plano que tanto as esperava.
Porque serraram os olhos de Adão?